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Água verdadeira

FSP, Tendências/Debates, p. A3
Autor: BRAGA, Benedito
22 de Mar de 2017

Água verdadeira

Benedito Braga

Comemora-se nesta quarta-feira (22) o Dia Mundial da Água. Com razão poderia o leitor perguntar: há o que comemorar? A resposta é um vigoroso sim, se levarmos em conta o esforço realizado pelo Governo de São Paulo no encaminhamento de soluções para a maior crise hídrica que se tem registro em nosso Estado.
Ao mesmo tempo, temos importantes desafios no âmbito do saneamento básico, o que nos leva a abrandar o vigor da resposta. Entretanto, no que concerne à segurança hídrica, temos muito a festejar.
Tal avanço foi construído em São Paulo a partir de dois pilares: gerenciamento da demanda e aumento da oferta de água. Durante a crise hídrica de 2014-2015, mecanismos econômicos para o uso eficiente dos recursos foram fundamentais.
Através do sistema de bônus, os consumidores da água da Sabesp que economizaram tiveram descontos em suas contas de até 30%. Aqueles que aumentaram seu consumo foram submetidos à tarifa de contingência, com aumentos de até 50%. Dessa maneira, o gasto de água foi reduzido em cerca de 30%.
Hoje, quando a crise está totalmente superada e os mecanismos foram cancelados, a redução em relação ao período pré-escassez chega a 15%. Ou seja, o paulistano adotou um novo paradigma de consumo, mais parcimonioso e eficiente. Isso é motivo para grande comemoração.
"Água verdadeira." Este, segundo alguns estudiosos da língua tupi, seria um dos significados da palavra Tietê, que deu nome ao rio impulsionador do que podemos chamar de "civilização paulista".
Hoje o Tietê está distante da recuperação com que sonhamos, mas não temos medido esforços e investimentos nessa luta, junto com toda a sociedade, que cada vez mais está atenta para a importância da água.
Lições de países que atingiram esse nível de consciência há mais tempo nos servem de guia. Como a experiência de Londres, com o rio Tâmisa, que já foi chamado de "O Grande Fedor" e levou mais de cem anos para ser recuperado. Na França, o Sena demorou 70 anos e também demandou vultosos investimentos.
Sabemos que estamos no caminho certo, como aponta a redução da mancha de poluição do Tietê em 75%, índice atestado pela ONG SOS Mata Atlântica. E também pelos exemplos de outros rios importantes do Estado, como o Paraíba do Sul e o Jundiaí, que já receberam até classificação que permite o uso da água para abastecimento.
O caminho é este: desassorear, reduzir o esgoto e combater a poluição difusa (o lixo levado pela chuva ao rio e aos córregos). Esse trabalho no Tietê é fundamental para o nosso futuro.
Neste ano devemos entregar o novo Sistema São Lourenço e a Interligação Rio Grande - Atibainha; no ano que vem, a nova captação do Itapanhaú. Ao todo, somando essas três obras às outras realizadas durante a crise hídrica (Rio Grande-Taiaçupeba, Guaió, rio Pequeno-rio Grande e Guaratuba), temos 22 m³/s de água a mais entrando nos nossos sistemas de abastecimento.
Tudo somado, representa mais de um terço do que a Grande São Paulo consome hoje, o suficiente para garantir água para quase 8 milhões de pessoas.
Água de qualidade, água segura, água que dá vida, que significa saúde, que possibilita as nossas atividades sociais, profissionais e recreativas e que embeleza o mundo.

BENEDITO BRAGA é secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo e presidente do Conselho Mundial da Água

FSP, 22/03/2017, Tendências/Debates, p. A3

http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2017/03/1868587-agua-verdadeira.sh…

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